Texto: Rose Araujo.
Agora que as
doenças infecciosas, como sarampo, varíola e paralisia infantil, estão sob
controle, graças às vacinas, a preocupação dos pais se volta para outros
problemas. É cada vez mais frequente encontrar crianças com síndromes de
adultos, como colesterol alterado, hipertensão, diabetes tipo 2 e obesidade.
Assustador, esse quadro tem como causa os maus hábitos de vida, que inclui
sedentarismo e alimentação de qualidade duvidosa.
“O que tem causado tudo isso são as
mudanças no estilo de vida das famílias, com horários incertos para as
refeições básicas - isso quando não se recorre a pratos prontos
industrializados, tudo com excessos de sódio, açúcares, gorduras”, explica o
pediatra Edson Oshiro.
A alimentação é a grande precursora
dessas doenças, somada à falta de atividade física. O corpo recebe essa carga
de substâncias nocivas à saúde e não sabe como processá-la. Com isso, acaba se
acumulando no organismo e afetando o funcionamento de diversos órgãos, como
pâncreas (produção de insulina), corrente sanguínea, estômago e coração.
E os pequenos não estão livres
disso, mesmo tendo mais energia, disposição e estando com o organismo menos
desgastado que o do adulto.
A secretária Alice Souza, mãe de
Eduardo, 8 anos (os nomes foram trocados a pedido da entrevistada), precisa
administrar bem toda a alimentação do filho. Ele, com 1,25m de altura, já está
pesando 35kg e precisa de acompanhamento com endocrinologista. “Controlamos
tudo, tipo de comida e quantidades. Reduzimos o doce. Temos a vantagem dele não
gostar de refrigerante”, salienta a mãe.
Ela acredita que a causa da
obesidade do filho vem de família. Ela e o pai não são obesos, mas avós e tios,
sim. E outro detalhe: Eduardo adora comer! “Ele come tudo, não tem nenhuma
restrição alimentar”, afirma. “Morremos de pena quando ele pede para repetir o
prato e temos que negar!”
Alice destaca que o médico
recomendou, ainda, atividade física regular ao menino. “Agora ele faz natação
duas vezes por semana, futsal uma vez e ainda tem o basquete, o vôlei e a
ginástica que ele faz na escola no período da tarde. Mas ainda não emagreceu.”
Os riscos
Conviver desde cedo com essas
doenças é levar uma vida de consultas médicas, preocupações e medo. Os riscos
são os mesmo para adultos e crianças e é preciso um controle rigoroso para não
sofrer danos maiores, como um Acidente Vascular Cerebral (AVC), por exemplo.
“Uma criança ou adolescente
hipertenso poderá ter lesões no que chamamos de órgãos-alvo: cérebro, coração e
rins. Isso traz consequências seriíssimas, como o acidente vascular cerebral
(AVC), a insuficiência cardíaca e, por exemplo, a necessidade de hemodiálise
por perda das funções renais, no futuro. A ideia é ficar atento e, se houver
hipertensão, manter sob controle desde cedo”, orienta o médico Eduardo Mesquita
de Oliveira, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein, em artigo
publicado no site da instituição.
Diabetes tipo 2
Essa doença, que costumava se
manifestar em pessoas com mais de 40 anos, agora aparece de forma epidêmica
entre as crianças. As principais causas? Obesidade, alimentação rica em gordura
e açúcar e sedentarismo.
O diabetes mellitus tipo 2 pode ser
um mal silencioso. Alguns sintomas que podem ser manifestar: aumento de sede e
da frequência urinária, aumento da fome, cansaço, perda de peso, visão turva,
dificuldade de cicatrização de feridas, frequentes infecções na pele, áreas de
escurecimento da pele e acantose (aumento da espessura da epiderme), que pode
aparecer debaixo dos braços e do queixo e denota aumento a resistência à
insulina.
O diagnóstico é feito pelo exame de
sangue em jejum. Mas o médico poderá requisitar outros exames, como a
hemoglobina glicada e o teste de tolerância à glicose. Se o resultado confirmar
a doença, o tratamento constitui em um controle rigoroso da alimentação,
atividades físicas frequentes e, em alguns casos, uso de medicação.
Cuidado com o fast food
Já alertamos sobre o perigo do
consumo de fast food em algumas edições anteriores da Na Mochila. Agora, um
estudo da Proteste Associação de Consumidores veio confirmar as informações. A
entidade avaliou 14 combos de cinco lanchonetes de fast food, sendo quatro
infantis (cheeseburger, batata frita e bebida pequenos) e 10 adultos
(sanduíche, batata frita e bebida médios), e constatou: todos são verdadeiras
bombas de gordura, sódio e açúcar, que contribuem para o aumento de doenças
cardiovasculares, obesidade, diabetes e hipertensão.
Entre os lanches infantis, o
McLanche Feliz contém quantidade elevada de gordura saturada, chegando a 43%
dos valores diários de referência para este nutriente. Os níveis de
gordura trans, a mais nociva para o organismo, foram considerados bons – com
exceção do lanche Double Cheddar, do Habib’s, onde foi encontrado 0,91 g. Os
níveis de sódio também são preocupantes. Apenas cinco combos apresentaram
níveis aceitáveis do nutriente – três infantis e dois adultos. O MegaClone, do
Giraffas, é o lanche que contém mais sal (2,1 g), ultrapassando a recomendação
da Organização Mundial de Saúde (OMS) de consumo, que é de 2 g por dia. Entre
os infantis, o GiraLanche, também do Giraffas, contém o teor mais elevado de
sódio. A quantidade de açúcar nas bebidas também está acima dos
aceitáveis para o consumo (6,3%). Os refrigerantes do MCDonald’s e Giraffas
apresentaram 10% de açúcar e os do Bob’s, 7,3%. Na comparação com teste
realizado pela Proteste em 2009, os níveis de gordura saturada e trans
diminuíram em até 11%. Contudo, os índices de gorduras totais aumentaram – de
29 g para 42g nos combos adultos e de 19 para 24g nos infantis. A quantidade de
calorias também subiu em 8%. E o açúcar nos refrigerantes diminuiu nos combos adultos,
entretanto, aumentou nos infantis.
Por isso, o ideal é que o consumo
desses alimentos seja feito de forma muito moderada.
As doenças em números:
- Dados do Instituto do Coração
apontam que cerca de 10% das crianças no Brasil têm colesterol alto. De acordo
com pesquisa feita pela Unicamp com 1.937 crianças e adolescentes entre 2 e 19
anos, 44% dos entrevistados tinham níveis alterados de colesterol. Nos Estados
Unidos, este número chega a 50% em alguns estados americanos.
- No Brasil, cerca de 30 milhões de
brasileiros são hipertensos e desse total 19% são crianças, adolescentes e
adultos com idade inferior a 34 anos. Estima-se que cerca de 5% das crianças
sofram deste mal.
- Segundo estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 12% das crianças apresentam algum tipo de transtorno emocional como estresse, depressão e síndrome do pânico. Estes problemas podem afetar a qualidade de vida do indivíduo e, se não tratados, estenderem-se até a idade adulta.
Entrevistados:
Edson Oshiro, pediatra do Instituto da Infância
Eduardo Mesquita, cardiologista do Hospital Israelita Albert Einstein
Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.